7 de abril de 2021

Se os consumidores ousarem esquecer o que as empresas deixaram de fazer, os concorrentes os lembrarão

Toda construção precisa de alicerce. E ao contrário de uma casa, o que alicerça um lar são os valores que ali habitam. E respeitando a lógica do minimalismo, eles não devem ser muitos, mas fortes, inegociáveis. Dentre eles, o apreço pela vida é o mais importante deles.

A comunicação que se impõe nesse momento deve igualmente ser pautada nesse princípio. Marcas e profissionais devem trazer em suas narrativas o compromisso ético com a vida humana, porque é ela que está ameaçada. É para ela que tudo o mais existe. Todo o resto se coloca em segundo plano.

Somos cúmplices no medo da morte. Como nos advertia o filósofo espanhol Ortega y Gasset, "eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim". De modo que nenhum negócio sobreviverá a sombra da omissão dos que podendo fazer algo, nada fizeram. Se os consumidores ousarem esquecer o que as empresas deixaram de fazer, os concorrentes os lembrarão.

O mundo não será o mesmo, gritam os arautos de um tempo que ainda não aconteceu. Mas se não podemos teorizar sobre o futuro, algo já podemos dar como certo. A comunicação não é a mesma, mudou rápida e inexoravelmente. Os consumidores, ou pelo menos muitos deles, cientes do que nos trouxe até aqui, talvez nunca mais sejam os mesmos.

A mudança se impôs de modo violento, implacável, irreversível. Dormimos num mundo presencial e acordamos numa era digital. Trezentos e sessenta e cinco dias nos separam do mundo que conhecíamos. As mídias sociais humanizaram a relações comerciais. A vida outrora privada passou a dividir o protagonismo com grandes marcas. Profissionais liberais assumiram o comando das suas redes e de sua própria comunicação, transformaram suas mídias sociais no centro de seus negócios, comercializando serviços, ideias e produtos, tanto físicos quanto digitais.

O discurso agora é na primeira pessoa e ter propósito é imperativo. Ter posicionamento, também. O mundo pede. A publicidade nesse cenário assume um papel importantíssimo de não apenas persuadir, mas de informar, conscientizar seus consumidores. O que está em jogo nesse momento é a sobrevivência da humanidade, lembra?

Sim, a comunicação continuará a ser mediada pelas telas e aprender a dominar essa linguagem é imperativo para profissionais, empresários e suas marcas. Sim, é impositivo às empresas, às marcas e aos serviços o engajamento social e isso ultrapassa a cultura de doação, tão importante nessa hora, mas insuficiente para mudar a história, para promover transformação, para criar oportunidades, para reduzir desigualdades.

Autoria: Tânia Dourado. Escritora, Linguista, Comunicadora. Professora da Pós Facine em Docência do Ensino Superior.